C 63 AMG Black Series se despede, com um encontro ao final...
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C 63 AMG Black Series se despede, com um encontro ao final...
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JULIANO BARATA 21 MARÇO, 2014
O médico e o monstro
Despedida: o fim de uma era
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JULIANO BARATA 21 MARÇO, 2014
Seria um dia perfeito para a arte do nada. Tudo o que se ouvia era a forte chuva castigando o alumínio do telhado, ressoando por todo o galpão. Mas agora não ouço nada senão meus próprios passos sendo guiados em direção à memória de um crescente borbulhar grave – a marcha lenta de um V8 bravo, preparado.
A luz entra meio tímida pelo portão e desenha a silhueta dos seus para-lamas alargados. Chegam a ser ofensivos, de tão pronunciados. Sabor de Deutsche Tourenwagen Masters. Aqui, não há discrição, sutileza ou delicadeza. Pelo contrário: é violência em estado quase bruto.
Mercedes-Benz C63 AMG Black Series – ou a versão preparada de um modelo que já é preparado. Fogo combatido com fogo. 517 cv a 6.800 rpm (com corte de giro a 7.200 rpm) em seu V8 aspirado de 6.208 cm³, 1.710 kg, um vistoso body kit que valoriza as bitolas alargadas, freios imensos com pinças de seis pistões na dianteira e quatro na traseira, suspensão totalmente redimensionada (com direito a amortecedores ajustáveis em compressão e retorno), aerodinâmica redesenhada. Tração traseira com diferencial autoblocante.
Zero a 100 km/h em 4,2 s, velocidade máxima limitada eletronicamente em 300 km/h. Trezentos.
O C63 AMG Black Series é a síntese de quando uma certa nostalgia sanguinária domina a sede de Affalterbach, os colarinhos se afrouxam, as mangas se arregaçam e os engenheiros da AMG incorporam o espírito original da sigla – uma preparadora de carros de pista e de rua sem o menor pudor.
Nos últimos dois anos, uma série de coincidências nos colocaram frente a frente em diversas ocasiões e, em todas elas, fiz questão de escolher a rota com carinho e vivê-lo com toda a intensidade, como se fosse a última vez. Estradas dos Romeiros, Pico do Jaraguá, Serra de Maresias – só no autódromo de Interlagos, foram três oportunidades. Desta vez contudo, há um amargo gosto doce enquanto caminho em sua direção: esta seria, de fato, a última vez de todas.
O C63 AMG Black Series está dizendo adeus: foram entre dez e doze unidades trazidas ao Brasil (US$ 337.800 na época do lançamento) deste modelo, que deixará o universo de objetos de consumo para se tornar um dos colecionáveis mais importantes da história da marca. Mas agora não é hora de falarmos sobre isso. Mais tarde.
Puxo a maçaneta e abro a porta. O Alcantara do aro do volante (que poderia ter um diâmetro menor) já está um pouco gasto e conforta as palmas das mãos com familiaridade, como aquele sapato favorito. O hodômetro marca quase 20 mil quilômetros. Sua cabine, apesar de refinada, é discreta e não tem nenhuma excentricidade fora o material de alguns revestimentos – Alcantara na seção central nos bancos, fibra de carbono em um filete no painel, alumínio nos pedais e paddle shifters, e não muito mais do que isso. Ele não precisa parecer o que já é.
Hora do rito de passagem. Uma última respirada, piso no pedal de freio, insiro a chave eletrônica na coluna de direção e a giro. O V8 acorda em uma explosão seca e agressiva, que imediatamente me faz lembrar dos tempos mitológicos dos V8 big block dos muscle cars, com escapes dimensionados, comandos agressivos e cabeçotes com dutos e válvulas imensas. He’s alive. Esta organicidade é o que faz deste AMG algo mais do que especial – embora todos os assistentes eletrônicos estejam ali, você sente que este é um esportivo com uma vivacidade que poucos possuem hoje no mundo.
Mas, por trás disso, existe uma perigosa mistura entre açúcar e sangue.
Enquanto dou ao V8 montado artesanalmente por Behar Pepshi (cada motor é montado por apenas um engenheiro da AMG) dois minutos para lubrificar e ganhar um mínimo de temperatura, faço os ajustes da coluna de direção e do banco. Puxo e afivelo o cinto vermelho e giro o seletor do câmbio três posições para a direita – modo manual.
Sim, a programação do modo automático Sport é sublime – para se ter uma ideia, ela usa acelerômetros e sensores na coluna da direção para saber se deve permanecer na marcha, prevenindo desequilíbrios dinâmicos -, mas prefiro eu mesmo ter a experiência de apertar as massivas borboletas de alumínio atrás do volante. Teimoso? Orgulhoso? Sei lá. Apenas eu.
Antes de tirá-lo do neutro, cutuco o acelerador com certa malícia. Os oito cilindros me respondem com outro urro, que ressoa nas paredes do galpão quase como um trovão. Dou um sorriso de canto. É assim que ele te atrai como a gravidade e te leva a sair da linha – e você sequer se dá conta que sua personalidade foi envolvida por uma aura negra.
Aperto a borboleta da direita, engato a primeira marcha e saio lento. O motor sussurra com um misto de ondas graves e subgraves, uma espécie de tremor subterrâneo. A chuva já havia se transformado em uma garoa, mas também já tinha deixado suas consequências – todo o asfalto havia se tornado um infinito espelho d’água.
A primeira das duas estradas que planejei para nossa desepedida se aproxima, o tráfego desaparece do horizonte e as curvas traiçoeiras começam a chegar – junto com a chuva. Nem por isso, as rotações do motor deixam de subir.
Sinto um misto de frio na barriga com uma irresistível vontade de provocá-lo. Um jogo de atiçar e de ser tentado, que causa a falsa impressão de domínio alternado: na verdade estamos nos comunicando, por uma fina linha de cumplicidade que pode se transformar em um corte profundo na pele se passar do ponto – como uma garota de personalidade indomável, sedutiva e explosiva. A verdade é que não há zona de conforto ao se esmagar o pedal da direita neste carro. Em velocidade, ele devora a atenção de todos os seus sentidos.
Andar forte com o Black Series é um profundo exercício de autocontrole. O torque e o ronco do V8 6.2 te instigam a pisar cada vez mais fundo para ser entorpecido pela música mecânica, os enormes pneus Pirelli PZero 255/35 R19 (dianteira) e 285/30 R19 (traseira) combinados às bitolas imensas dos eixos dianteiro e traseiro (1,61 m em ambos) resultam em pouquíssima rolagem de carroceria mesmo em autódromos, o entre-eixos relativamente curto (2,77 m) para as bitolas o deixa muito ágil dinamicamente – mas é fácil perder tudo de uma vez, especialmente com o controle de estabilidade no modo Sport ou desligado.
Para tirar o máximo deste carro, portanto, você precisa de uma estranha combinação de mentalidade agressiva e execução suave. Todo o seu acerto de chassi foi direcionado para deixá-lo neutro em curvas de média – carga, geometria de suspensão e até o mapeamento do sistema de distribuição de freios. O C63 BS usa ao máximo não apenas as pinças dianteiras, mas também as traseiras – e isso quer dizer que há um sutil comportamento sobre-esterçante nas entradas de curva, como um carro de corrida, o que ajuda a dianteira a apontar com mais facilidade. Note isso no vídeo abaixo, filmado em 2012 (foi minha primeira experiência em Interlagos com o C63 BS):
O fato de sua dinâmica ser neutra com pilotagem suave significa que sua traseira fica arisca para motoristas que bombeiam o pedal do acelerador e dão trancos no volante em direção esportiva. É daí que veio a sua fama de carro traiçoeiro – na verdade, ele é apenas intolerante a pilotos de tocada quadrada. É um esportivo para iniciados que, ao contrário do Porsche Boxster, por exemplo, não aceita todo estilo de pilotagem. O C63 Black Series exige atitude polida e nivela seus motoristas por cima – o difícil é segurar a vontade de provocá-lo quando o conta-giros passa das 6.000 rpm…
O câmbio é um dos único pontos no qual eu acho que o C63 Black Series poderia ser um pouco melhor. Sim, a programação e o funcionamento da transmissão automática AMG Speedshift MCT, de sete velocidades, é suave como seda no modo normal e quase telepática no modo Sport, com trocas ascendentes muito velozes – apenas 100 milissegundos.
Mas no modo manual, há um pequeno delay entre o comando dado na borboleta e a efetuação da troca, que pode levá-lo ao corte de giro se você não se antecipar. E, como todo câmbio automático, você precisa esperar as rotações caírem um pouco mais para o sistema aceitar as reduções de marcha. Até o momento, o único modelo AMG com motor V8 com câmbio de dupla embreagem é o SLS, com o transeixo (câmbio e diferencial integrados) AMG Speedshift DCT.
Após algumas idas e vindas nesta estrada, parti para o clássico roteiro da Estrada dos Romeiros, um dos meus locais favoritos para dirigir esportivos. Lá o asfalto também estava bastante molhado – o grande desafio era conseguir acelerar o máximo possível nas saídas de curva sem destracionar. Mas quando isso acontecia, uma inevitável gargalhada acompanhava um pequeno contraesterço estático no volante…
Detalhes: magia negra
Conhecidos pela pimenta extra e pelos body kits que os deixam ainda mais monstruosos que os AMG de produção, a série limitada Black Series é o lado mais extremo que você pode experimentar num Mercedes-Benz. O primeiro modelo foi o SLK 55 AMG Black Series (2006), com um V8 5.5 de 400 cv. No ano seguinte, veio o CLK 63 AMG Black Series, já com o V8 M156 6.2 de 507 cv. Em 2008, surgiu o SL65 Black Series, com seu monstruoso V12 biturbo de 670 cv e torque colossal de 101,9 mkgf. E em 2011, o mundo conheceu o C63 AMG Black Series.
O body kit deixa os para-lamas bem mais largos – as bitolas são alargadas em 40 mm na frente e 79 mm atrás em relação ao C63 AMG de produção.
Note o respiro na saída do para-lama dianteiro, para evitar o represamento de ar dentro da caixa de roda e facilitar o escoamento aerodinâmico. As rodas forjadas medem 19 x 9″ na frente e 19 x 9,5″ atrás. Na foto acima, observe os respiros na porção anterior do capô, para saída do ar quente que entra pela grade dianteira e passa pelo radiador. Os discos de freio possuem 390 mm de diâmetro e são mordidos por pinças de seis pistões na dianteira. Atrás, discos de 360 mm e pinças de quatro pistões.
Por trás da bocarra do lado do passageiro no para-choque dianteiro, há um imenso radiador de óleo. No para-lama traseiro, veja a entrada de ar para arrefecimento das pinças de freio.
Na foto abaixo é possível ver os recortes para escoamento aerodinâmico dos para-lamas alargados, tanto na frente quanto atrás. A porção inferior do para-choque é de fibra de carbono, e com bastante atenção é possível notar…
….o difusor aerodinâmico, que acrescenta alguns quilos de downforce em altas velocidades. O C63 Black Series tinha também o opcional Aerodynamic Package, com um imenso aerofólio na traseira (digno da DTM), splitter dianteiro pronunciado e pequenos apêndices aerodinâmicos nas laterais dos para-choques frontais. Mas nós preferimos ele sem este kit.
São poucos os carros que merecem o status de “colecionável” hoje em dia. Mas este é um dos poucos automóveis em que eu apostaria muitas fichas. Fora a experiência completamente alucinante e quase entorpecente que ele fornece, há uma série de motivos históricos que fazem deste carro uma peça única na história da Mercedes-Benz: esta geração trouxe o primeiro V8 feito exclusivamente para a AMG, o M156. Antes dele, a divisão esportiva partia de blocos de produção em série e os preparava. Este é o primeiro Classe C Black Series a existir, mas mais do que isso, muito provavelmente é o último Classe C AMG com motor aspirado da história. E foram apenas 800 unidades fabricadas – para se ter uma ideia, a Ferrari produziu 1.315 unidades da F40.
O novo modelo já está em fase final de testes e já se sabe que ele utilizará um V8 biturbo, mais eficaz energeticamente e, sem dúvida, mais veloz. Mas acredite: a experiência de um big block aspirado é algo completamente diferente – tanto aos ouvidos quanto na experiência.
Por tudo isso e pelas experiências que passamos juntos, nada mais apropriado que fazer algo especial para me despedir do C63 Black Series. Existe um lugar que chamo de paraíso da estrela de três pontas. Um pequeno oásis escondido na cidade de São Paulo, onde há mais de vinte modelos da Mercedes.
Entre eles, havia um em especial que eu queria que este grandalhão branquelo se encontrasse.
E ele estava lá. Impecável, maravilhoso. Talvez um dos exemplares mais inteiros do País.
Luke, meet your father…
Mercedes-Benz C43 AMG W202, o primeiro Classe C AMG com motor V8 da história.
Lançado em 1998, o C43 usava uma versão preparada pela AMG do V8 4.3 aspirado do sedã de luxo E430. O motor com bloco e cabeçotes de alumínio gerava 306 cv, levava o esportivo aos 100 km/h em 6,5 s e calçava um dos jogos de roda mais charmosos já feitos pela Mercedes-Benz, com 17 polegadas de diâmetro. Foram pouco mais de 3.000 unidades fabricadas do C43 – e destas, apenas 22 vieram para o Brasil.
Perto de seu antigo antecessor, o C63 Black Series fica ainda mais monstruoso. Mas é inegável que há uma espinha dorsal que conecta estes dois diretamente: eles são o primeiro e o último Classe C AMG com motor V8 aspirado da história.
E por isso, nada mais justo que promover este encontro antes de minha despedida.
Este é o fim de uma era. Mas seus rugidos ainda vão ecoar por muitos anos nas ruas e autódromos de todo o mundo.
Agradecimento especial: Paulo Kato / Kato & Cia.
Ficha Técnica: Mercedes-Benz C63 AMG Black SeriesMotor: V8, longitudinal, 6.208 cm³, 32V, cabeçote com duplo comando de válvulas variável, gasolina
Potência: 517 cv a 6.800 rpm
Torque: 63,2 mkgf a 5.200 rpm
Transmissão: automática, sete marchas, tração traseira
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson e traseira do tipo multibraços
Freios: Discos ventilados e perfurados nas quatro rodas
Pneus: 255/35 R19 (dianteira), 285/30 R19 (traseira)
Dimensões: 4,76 m de comprimento, 1,99 m de largura, 1,38 m de altura e 2,77 m de entre-eixos
Peso: 1.710 kg
Itens de série: faróis tipo bi-xenônio, lanternas de LED, controle de largada, volante multifuncional, ar-condicionado digital, bancos e volante com regulagens de distância e altura, revestimento de couro e Alcantara, cinco airbags, freios ABS com EBD, controles eletrônicos de estabilidade e de tração, sistema multimídia com GPS, controlador automático de velocidade
Preço: US$ 337.800 (não existem mais unidades em produção ou à venda)
Potência: 517 cv a 6.800 rpm
Torque: 63,2 mkgf a 5.200 rpm
Transmissão: automática, sete marchas, tração traseira
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson e traseira do tipo multibraços
Freios: Discos ventilados e perfurados nas quatro rodas
Pneus: 255/35 R19 (dianteira), 285/30 R19 (traseira)
Dimensões: 4,76 m de comprimento, 1,99 m de largura, 1,38 m de altura e 2,77 m de entre-eixos
Peso: 1.710 kg
Itens de série: faróis tipo bi-xenônio, lanternas de LED, controle de largada, volante multifuncional, ar-condicionado digital, bancos e volante com regulagens de distância e altura, revestimento de couro e Alcantara, cinco airbags, freios ABS com EBD, controles eletrônicos de estabilidade e de tração, sistema multimídia com GPS, controlador automático de velocidade
Preço: US$ 337.800 (não existem mais unidades em produção ou à venda)
Gustavo Vanesghick- Usuário Platina
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Data de inscrição : 06/08/2012
Idade : 50
Re: C 63 AMG Black Series se despede, com um encontro ao final...
Vai fazer falta, foi na minha opinião o melhor AMG da Classe C
Caio_Cartaxo- Usuário Prata
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Data de inscrição : 22/08/2013
Idade : 28
Re: C 63 AMG Black Series se despede, com um encontro ao final...
Muito boa tive o prazer de dirigir em Tarumã, sonho realizado!!!!!!
Tiago Lock- Usuário Bronze
- Mensagens : 59
Data de inscrição : 19/03/2013
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